quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Violência de Gênero e Hierarquia Social: antagonismos preexistentes na contemporaneidade.


Gislane Sivirino da Rocha

Resumo

O presente artigo pretende sintetizar alguns aspectos inerentes a gênero e raça, com o intuito de tornar tangível alguns preceitos que envolve tal problemática buscando demonstrar alguns preceitos antagônicos e de violência que perduram desde antiguidade a dias atuais, onde direitos de igualdade são negados e/ou omissos, impedindo desta forma o desenvolvimento da cidadania tornando-se a desigualdade e exclusão fator determinante onde a diversidade cultural compele a observar as dimensões que a desigualdade de gênero se apresenta em determinada sociedade, suas multifacetas como um todo, exigindo a cada dia mais a busca de alternativas adequadas para minorar e garantir o direito inerente à esta parcela discriminada.


Considerações gerais

No decorrer do tempo homem e mulher vem sendo rotulados e treinados de acordo com o sexo em que nascem, ou seja, a cultura e momento histórico determinam o comportamento dos indivíduos. Quando há um rompimento deste conceito, há também uma exacerbada negação por parte da sociedade, que passa a enxergar nestes indivíduos rebelados motivos para resposta em forma muitas das vezes de agressividade, escândalo e perseguição. A distinção tipificada de homem e mulher institui-se padrão de normalidade, criando uma expectativa pré-concebida de como homens e mulheres devem ser, com sua maneira de se vestir, falar, agir, sentar, etc. Outrossim, é “comum” que as disparidades de gêneros e violência aos preceitos das mulheres sejam raizadas, uma vez que as características femininas e masculinas, estão impregnadas na mente e não/tão somente ao corpo, embora o sexo seja “um atributo analítico do humano; não há ser humano que não seja sexuado; como atributo necessário, o sexo qualifica o ser humano. Mas o sexo não causa gênero; e o gênero não pode ser entendido como expressão ou reflexo do sexo...”  (Butler, trad. Aguiar, 2010, Rio de Janeiro, p.163)
Ao se observar os diferentes papéis exercidos entre os gêneros ainda hoje, deparamos com um ideal decorrente de contextos históricos anteriores onde o homem é o provedor e a mulher a boa dona de casa. Nota-se que a distribuição das tarefas em algumas culturas é um fator de refinamento compreendido de forma a transferir para a mulher a responsabilidade de tarefas tidas como papel da mulher desempenhar. O homem por sua vez ocupa espaço onde suas tarefas são restritas a sua condição bruta e marcada por relação de poder.

“Embora as mulheres sejam há muito tempo parte da força de trabalho, a ideologia patriarcal não conseguiu reconhecer o papel central que as mulheres têm desempenhado nas relações de produção. A tendência tem sido a de construir a imagem das mulheres como detentoras de uma relação privilegiada com a reprodução e a de excluí-las de uma análise da produção. Sem dúvida, pressupostos sobre a divisão natural do trabalho, baseada nas diferenças reprodutivas, subjazem a essa tendência.” (Chanter, 2011, Porto Alegre, p.41).

Historicamente nota-se que o homem tem ocupado significativamente o espaço público, do qual as mulheres por longo período foram excluídas, tendo o mundo doméstico como finco para desenvolvimento de suas habilidades. Aos homens desde crianças eram priorizados brinquedos como espadas, o que já desde cedo os incentivava a se portarem quando adultos na condição de provedor, de ir para a guerra. Outrossim, as mulheres eram condicionadas a brinquedos que as incentivavam a serem boas donas de casa.
A exemplo contemporâneo podemos nos reportar a posição em que ocupa homens e mulheres com relação a profissão, uma vez que as profissões que mais exigem a razão como centro, são adotadas em sua maior parte pelos homens, como a física. Por outro lado as mulheres elegem as ciências humanas para suas profissões como a de psicóloga, assistente social, etc. Apesar de com o passar do tempo a participação feminina ter permutado nas relações de trabalho masculinas, ainda há disparidades salariais no que se concerne ao mesmo cunho de trabalho, que apesar da graduação ser praticamente a mesma com especialidades diferentes, como o ramo da medicina onde os homens optam por se especializarem em neurologia o que produz salário diferente à escolha das mulheres, que têm preferência por pediatria.
Ainda neste contexto as mulheres com poder aquisitivo favorável conseguem conciliar trabalho e vida pessoal com maior facilidade, pois transfere para os (as) empregados(as) domésticos(as) parte das responsabilidades diárias, que apesar disso não estão livres totalmente do encargo do lar, assim como seu (a) ajudante. O empregado doméstico carrega consigo majoritariamente a figura feminina, que por si agrega maior encargo, principalmente quando negras que na maioria das famílias brasileiras é desenvolvido de forma a subtrair os direitos trabalhistas.
Estudos revelam que até a metade do século XX, as mulheres não tinham participação na carreira pública, não tendo participação significante na vida econômica. Somente a partir de algumas legislações que assegurassem os direitos inerentes às mesmas é que se emerge a concepção da vida laboral com maior valorização do sexo feminino. As mulheres nem sequer tinham o direito de estudarem como os homens.
No Brasil só em 1870 é que houve abertura de ensino superior para participação das mulheres, e o direito ao voto só foi possível em 1932, após militância do movimento sufragista feminino[1]. Mesmo após as legislações observa-se ainda discrepâncias entre gêneros, tornando tal fator uma violenta negação aos direitos inerentes às mesmas. A exemplo parlamentar abalança-se as legislações de cotas que estabelece 30% para inserção de mulheres na representação parlamentar, a qual encontra diversas resistências para manutenção do já legalmente preconizado.
No que se concerne hoje a direitos constitucionais, tanto mulheres como homens tem direitos igualitários garantidos, porém estes direitos principalmente os das mulheres são escamoteados, seja por gênero ou por possuir baixo poder aquisitivo ou até mesmo por não obter as informações necessárias, dificultando desta forma o acesso a meios para que exerça sua cidadania. A exemplo temos os meios contraceptivos que muitas desconhecem  e demais meios para assegurar o direito inerente a seu próprio corpo, neste ínterim também a dominação masculina é outro fator que permeia a situação em que emerge o cotidiano das mulheres, onde estes usam de formas de violência seja psicológica ou física como imposição de seus desejos subjetivos.
No decorrer da história aqui a brasileira, nota-se no que se concerne às mulheres negras, foram a estas incorporado um estigma inerente da caracterização de seus corpos, tidos como atrativo sexual, pois no período colonial os brancos estereotipavam no desígnio de que suas genitálias se diferiam das genitálias das mulheres brancas. Além de outros estereótipos como a languidez e preguiça, que conformaram a raça negra a disparidades entre os brancos, “o gênero já é dado em termos raciais, e a raça em termos de gênero, embora as maneiras como o gênero recebe a inflexão da raça e raça recebe a inflexão do gênero não  tenham sido tematizadas”. (Chanter, 2011, Porto Alegre p.37). No entanto as desvantagens relativas a gênero em determinadas situações ficam um tanto obscuras, quando comparado a exemplo o homem negro e de classe baixa, que necessita ocupar seu espaço e usufruir de seus direitos, em contrapartida uma mulher branca e de classe alta, o primeiro apesar de homem terá tratamento diferenciado frente a sociedade que dará maior visibilidade à mulher por ser endinheirada.
Frente a este contexto afere-se que para sanar tal fator deve-se principalmente os gestores das políticas públicas juntamente com a sociedade se conscientizarem e priorizarem a formulação de políticas públicas em gênero e raça  no intuito de que esta parte majoritária discriminada obtenha acesso a seus direitos e assim possam desfrutar de sua cidadania.


Referências
CHANTER, Tina; trad. Figueira, Vinícius. Gênero, Conceito-Chave em Filosofia. 1ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2011.

Curso de Especialização em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça. Vitória: Mod 2, Políticas Públicas e Gênero. Unid, II Gênero e Hierarquia Social. Corpo e comportamento. 2011. Disponível em: http://www.gppgr.neaad.ufes.br/file.php/112/Modulo2/mod2_unid2.html. Acesso em 26/08/2011.

Curso de Especialização em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça. Vitória: Mod 2, Políticas Públicas e Gênero. Unid, II Gênero e Hierarquia Social. Gênero e Reprodução. 2011. Disponível em: http://www.gppgr.neaad.ufes.br/file.php/112/Modulo2/mod2_unid2.html. Acesso em 26/08/2011.

Curso de Especialização em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça. Vitória: Mod 2, Políticas Públicas e Gênero. Unid, II Gênero e Hierarquia Social. Diferenças de gênero na organização social da vida pública. 2011. Disponível em: http://www.gppgr.neaad.ufes.br/file.php/112/Modulo2/mod2_unid2.html. Acesso em 26/08/2011.

Curso de Especialização em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça. Vitória: Mod 2, Políticas Públicas e Gênero. Unid, II Gênero e Hierarquia Social. Diferenças de gênero na organização social da vida privada. 2011. Disponível em: http://www.gppgr.neaad.ufes.br/file.php/112/Modulo2/mod2_unid2.html. Acesso em 26/08/2011.

Curso de Especialização em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça. Vitória: Mod 2, Políticas Públicas e Gênero. Unid, II Gênero e Hierarquia Social. Desigualdades entrecruzadas: estereótipos e hierarquia de raças gênero e sexualidade 2011. Disponível em: http://www.gppgr.neaad.ufes.br/file.php/112/Modulo2/mod2_unid2.html. Acesso em 26/08/2011.

JUDITH, Butler; trad. Aguiar, Renato. Problemas de Gênero, Feminismo e subversão da identidade. 3ª edição. Rio de Janeiro: Sujeito e História Civilização Brasileira,2010.


[1] Movimento de mulheres que se acorrentavam às grades do parlamento em protesto contra a impossibilidade de votar, ainda batalham em outros países pelo mesmo direito.


Postado por: Gislane Sivirino da Rocha

sábado, 3 de setembro de 2011

Desigualdade de Gênero







                                                         A desigualdade de gênero existe em diversas sociedades historicamente o homem sempre ocupou os espaços públicos enquanto as mulheres eram determinadas somente as tarefas domésticas e ao cuidado com os filhos, enquanto ao homem a tarefa do trabalho para sustentar a prole. Desde pequenas a s mulheres são educadas ao trabalho doméstico e isso fica bem claro se analisarmos as brincadeiras de meninas; cuidar de bonecas, brincar de casinha, fazer “comidinha” enquanto aos homens as brincadeiras como carrinho, bicicleta, jogar na rua, essas brincadeiras fortalecem ao homem a ocupação dos espaços públicos. Até a metade do século XX as mulheres não tinham espaço no mercado de trabalho e atualmente a legislação civil reconhece a mulher como “referência familiar” deixando esse papel de ser só do homem.
Postado por Eliane Francisco de Paula Reis